Colunista Semanal Barbara Michele Murtha passos

08/06/2012 10:13

Olá todos! A equipe filosofialivre conta agora com mais uma colaboradora Barbara Michele Murtha passos. Fiquem a vontade para sugerir-nos algo!

 

ATT

 

Tiago Augusto Torres Moreira.

 

 

Graciliano Ramos, a realidade do povo brasileiro em Vidas Secas.

 
Vidas Secas, publicado em 1938, é um romance regionalista da segunda Geração
 
do Modernismo Brasileiro. Entre os representantes desse estilo literário, Graciliano Ramos
 
(1892/1953) certamente é o mais contundente na crítica que apresenta à sociedade,
 
colocando-se como mandatário do homem, cuja consciência se perdeu em meio às
 
mazelas de uma sociedade opressora. Fazendo uso de linguagem simples, mais brasileira,
 
popular, o autor modernista conta com poderoso instrumento político e de esclarecimento.
 
Em sintonia com o estilo literário de sua época, Graciliano Ramos desenvolve temas
 
nacionais, abarcando conflitos cotidianos peculiares, como em Vidas Secas, em que
 
mostra não somente a seca, como também a migração, o trabalhador rural, a miséria e a
 
Nessa obra, Graciliano Ramos retrata a vida de uma família que vive no sertão
 
brasileiro e o sacrifício para sobreviverem num lugar tão árido, tão desumano; um lugar
 
onde a morte e o abandono social andam lado a lado. É como se eles andassem em
 
círculos, saindo de um lugar para outro sem esperança e com uma única certeza: de que a
 
morte não tardará a chegar.
 
Tendo como tema principal a luta pela sobrevivência diante do flagelo e da estiagem,
 
o autor em seus personagens mostra muito da alma nordestina nos traços de Fabiano e
 
Vidas Secas traz em suas páginas uma denúncia evidente da desigualdade social
 
e o abandono que ocorre no nordeste brasileiro como a exploração do homem, a falta de
 
moradia, saúde e educação. Gente que parece não fazer parte da sociedade e que ainda
 
hoje não existe no mais puro significado da palavra.
 
Graciliano Ramos nos descreve esses problemas através dos efeitos que
produzem nos pequenos ambientes e na própria intimidade do homem. Em
Vidas Secas não vemos a sociedade do alto, nos seus planos e nas suas linhas
de movimento coletivo, mas a surpreendemos na repercussão profunda dos
seus problemas, através de vidas humanas que vão passando, a braços com a
miséria, perseguidas por opressões e sofrimentos. (CANDIDO, Antonio, Ficção e
Confissão, p. 148).
 
A narrativa é feita em terceira pessoa não por acaso. Como nos ensina o autor, a
 
ausência quase absoluta de diálogo, de linguagem verbal entre as personagens, faz do
 
narrador onisciente elemento indispensável a que possamos penetrar no sofrimento dessa
 
família sertaneja.
 
As principais personagens são: Fabiano, Sinha Vitória, o menino mais novo e o
 
menino mais velho, que compõem a família de retirantes; a cachorra Baleia, praticamente
 
da família, Seu Tomás da bolandeira, que aparece apenas nas lembranças dos retirantes;
 
o soldado amarelo, o dono da fazenda em que a família se estabelece e o cobrador da
 
prefeitura, estes últimos representam instituições que oprimem Fabiano (a polícia, o
 
latifundiário e o governo).
 
Apesar de seus 73 anos na história brasileira, Vidas Secas pode ser considerada
 
uma obra atual da nossa literatura, pois trata de assuntos vistos até hoje em todos os
 
cantos do Brasil, principalmente nas cidades grandes como: São Paulo e Rio de Janeiro,
 
onde muitos do povo sofrem semelhante opressão. Não com a seca (falta d’água, fator
 
natural), mas sofre com a falta de escolas, saúde, suja consequências, enfim, com a
 
mesma “secura” que é imposta a Fabiano e sua família.
 
O primeiro capítulo, “Mudança”, e o último, “Fuga”, se assemelham no sentido de que
 
ambos tratam essencialmente da migração da família para um local desconhecido, incerto,
 
com a diferença de que na “fuga”, a caminho da cidade grande, seguem em companhia
 
de sua única amiga, a esperança que os movem; mas também com a incerteza do que
 
encontrarão pelo caminho ou se conseguirão chegar, pois a morte anda de braços dados
 
com a esperança.
 
A chave do realismo crítico de Graciliano Ramos encontra-se analisando o seu
distanciamento: o narrador conhece por dentro as restrições e os entraves da vida
rústica nordestina, tanto que sabe dar às folgas simbólicas dos retirantes o seu
verdadeiro nome de ilusórias consolações. (BOSI, Alfredo. Céu, Inferno, p. 33).
 
Logo no primeiro capítulo, o leitor já entra a fundo no sofrimento de Fabiano e sua
 
família em busca de água e alimento. Tendo somente a seca do local como companheira,
 
o sofrimento excessivo fica bastante evidente.
 
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes.
Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia
do rio seco, a viagem progrediria bem três léguas. Fazia horas que procuravam
uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos da
caatinga larga. (Vidas Secas, Mudança)
 
Graciliano Ramos nos mostra uma história sem belas paisagens, sem diálogo,
 
sem alegria e sem amor. Uma obra caracterizada pela tensão crítica entre o homem e o
 
seu meio social, pela violência sofrida pela exclusão e a crueldade do homem perante
 
seu semelhante.
 
As personagens dessa obra não se sentem seres humanos na significação mais
 
pura da palavra. Elas e a natureza árida do local se confundem como uma única coisa;
 
tratam-se, pois, como bichos, sem diálogos, agressivos e sem nenhum afeto aparente.
 
Não somente a terra é seca, o homem também é seco.
 
Fabiano é um animal trabalhador, que se ligou de forma profunda ao meio em que
 
sobrevive, por ter intimidade com a terra. É como se a terra e Fabiano fossem a mesma
 
coisa, fazendo parte um do outro.
 
Fabiano era vaqueiro, profissão herdada de seus antepassados, que já sobreviviam
 
da mesma profissão.
 
Mudam-se as roupas; mas todo o vaqueiro tem o chapéu, o olhar trancado e o
cheiro de vaca, que são comuns a todos. O resto é não ter noção de humanidade.
(Revista Literatura, O cidadão escritor e sua visão de mundo, MENESES, Douglas.
pág.44)
 
“A cabeça inclinada, o espinhaço curvo, agitava os braços para esquerda. Esses
movimentos eram inúteis, mas o vaqueiro, o pai do vaqueiro, o avô do vaqueiro, e
outros antepassados mais antigos haviam-se acostumados a percorrer veredas,
afastando o mato com as mãos. E os filhos já começavam a reproduzir os mesmos
gestos”. (Vidas Secas. pág. 18)
 
A falta de comunicação entre as personagens pode ser vista como um processo
 
de zoomorfização, pois a nossa inteligência é linguística por que nós pensamos com
 
palavras, e se um indivíduo não domina o código linguístico, não consegue articular seus
 
pensamentos. É o que se agrava quando a família decide matar o papagaio, tentando
 
amenizar a fome que sentem:
 
Resolveram de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando
que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a
família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente
soltavam palavras curtas. (Vidas Secas, Mudança)
 
Saussure nos seus estudos sobre os signos linguísticos, procurando descobrir
 
os sentidos contidos nas diversas linguagens do homem – os gestos, os sons, os objetos
 
e também a língua falada e escrita -, considera que esses sentidos formariam sistemas
 
de signos que revelariam a estrutura do inconsciente que ordenava o comportamento do
 
Alfredo Bosi (Céu, inferno, p.30) considera:
 
O diálogo entre essas criaturas relegadas ao grau mais baixo de uma
pesada hierarquia de posições será feito de gestos e olhares- sinais de
corpos que se tocam na fraternidade dos absolutamente despojados.
 
Antonio Candido (Ficção e Confissão, p.149) considera que:
 
É como se o narrador fosse, não um intérprete mimético, mas alguém
que institui a humanidade de seres que a sociedade põe à margem,
empurrando-os para as fronteiras da animalidade.
 
A natureza animal é o principal recurso dessa família na luta pela sobrevivência.
 
Como animais, as personagens praticamente não tinham linguagem, valem-se antes de
 
Para Fabiano, Sinha Vitória e os meninos, ser bicho era a melhor qualidade que
 
poderiam ter; era a forma que eles encontraram de adaptar-se, integrando-se à paisagem
 
numa existência próxima daquela dos animais.
 
Quando Fabiano diz: “Você é bicho Fabiano” e depois diz para a cadela da
 
família “Você é bicho Baleia”, é como se eles estivessem num único nível, irmanados na
 
tragédia de pertencerem à mesma realidade.
 
A cadela Baleia é a que parece ter mais sentimento e, até certo ponto, ser mais
 
humana que seus donos. Ela é como um membro da família, uma irmã para os meninos.
 
O povo é a cachorra Baleia. Não a cadela burguesa, comendo bife e banhando-
se com xampu. Baleia é a vira-latas do pobre, que faz parte do mesmo destino
dos outros. A gente miserável tem a estranha identidade com a cachorra. (Revista
Literatura, O cidadão escritor e sua visão de mundo, MENESES, Douglas. pág.52)
 
O fato de a cachorra ter nome, Baleia, e os meninos não, mais que simples ironia
 
assinalando a magreza da cadela, simboliza de forma extraordinária a desumanização do
 
ser humano, vez que, no Romance, o pequeno animal é retratado como “alguém” mais
 
sensível aos agrados e maus tratos de seus donos, que os meninos, aos de seus pais.
 
Para Antonio Candido:
 
Nesse sentido, lembro que a presença da cachorra Baleia institui um parâmetro
novo e quebra a hierarquia mental (digamos assim), pois permite ao narrador
inventar interioridade do animal, próxima à da criança rústica, próxima por sua vez
do adulto esmagado e sem horizonte. (Ficção e Confissão, p.148.)
 
Baleia estava doente, prestes a morrer. Fabiano achou que ela estava com hidrofobia
 
(raiva) e apressou a morte do animal. Os meninos ficaram inconsoláveis pela perda da
 
irmã e o coração de Sinha Vitória também ficara pesado. Baleia desconfiou das intenções
 
de Fabiano, que acaba acertando-lhe um tiro nos quartos traseiros. Ela foge e, em meio
 
à agonia, misturam-se em seu pensamento presente, passado e futuro, que sonha enfim
 
com outro tipo de vida. Não podia entender o porquê da atitude de Fabiano.
 
"Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente
Sinhá Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo. Baleia queria dormir.
Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um
Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio
enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos,
enormes."
 
Baleia era considerada pessoa da família, sensível, fiel, humanizada, enquanto
 
Fabiano animaliza-se e acredita ser bicho em face das condições de vida de típicas de
 
Ao indagar a mãe sobre o que seria o “Inferno”, Sinhá Vitoria responde a seu filho
 
mais velho, que seria “lugar ruim demais, com espetos quentes e fogueiras”; ao que o
 
menino logo perguntaria se ela já esteve lá. E como à mãe, faltam recursos linguísticos
 
mínimos para dar conta do entroncado desafio de descrever um ambiente em que nunca
 
se esteve sem parecer ilegítimo fazê-lo, o menino recebe um belo cascudo e sai indignado,
 
procurando carinho na cachorra Baleia, que o acolhe prontamente na medida em que
 
recebe satisfeita seu abraço e sua companhia. O menino então segue tentando adivinhar
 
qual seria o significado da profana palavra.
 
Para Alfredo Bosi (Céu, inferno, p.26)
 
O que interessa ao narrador é fixar o instante do curto-
circuito, o processo de incomunicação, a conversa truncada
na origem, o diálogo impossível: a barbárie que pulsa na
simetria de adulto e criança, de forte e fraco, que está preste
a explodir a qualquer hora.
 
O significado da palavra inferno, do lugar (inferno), como posto por Sinha Vitória,
 
pode ser associado ao local onde a família habita; um lugar muito quente, muito parecido
 
com o local por onde eles vagam.
 
Basta um segundo de volta à rede interpessoal, impiedosa; basta um olhar para a
vidraça em que se recorta o perfil ossudo da mãe, e o inferno se reinventa como
um lugar possível. (BOSI, Alfredo, céu, Inferno. p, 32)
 
“Entristeceu. Talvez Sinha Vitória dissesse a verdade. O inferno devia estar cheio
de jararacas e suçuaranas, e as pessoas que moravam lá recebiam cocorotes,
puxões de orelhas e pancadas com bainhas de faca”. (Vidas Secas, cap. Menino
mais velho).
 
E por falar em punição, o menino mais novo também teve a sua parcela: ao tentar
 
mimetizar o pai vaqueiro, sofre o deboche de todos os membros da família.
 
A imaginação é impedida de ser realizada plenamente e, assim, internaliza os limites
 
Não se conformando com semelhante indiferença depois da façanha do pai, o
menino foi acordar Baleia, que preguiçava, a barriga vermelha descoberta, sem
vergonha. A cachorra abriu o olho, encostou à pedra de amolar, bocejou e pegou
no sono de novo... Julgou-a estúpida e egoísta, deixou-a, indignado; foi puxar a
manga do vestido da mãe, desejando comunicar-se com ela. Sinha Vitória soltou
uma exclamação de aborrecimento, e, como o pirralho insistisse, deu-lhe um
cascudo. (Vidas Secas, p. 48)
 
Os meninos buscam inutilmente diálogo com os pais. Fabiano e Sinha Vitória são
 
produtos do meio onde vivem, da terra seca, sem oportunidade, onde o homem que a
 
habita tem que se preocupar exclusivamente com a sobrevivência, o que o faz seco como
 
o lugar onde vive.
 
Se em “Cadeia” Fabiano conscientiza-se de que há no mundo homens que, por
 
ocuparem uma posição social diferente da dele, podem machucá-lo; se em “Festa” a
 
própria família se percebe desajeitada e sentem-se seus membros ridículos, em situação
 
inferior a de seus concidadãos; em “Contas”, Fabiano percebe que as pessoas com
 
dinheiro também podem aproveitar-se deles.
 
Quando Fabiano vê-se roubado por seu patrão, duas reações lhe ocorrem, primeiro
 
uma revolta muda, interiorizada:
 
“Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada!
 
Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria”.
 
Por não saber se comunicar não consegue exigir seus direitos.
 
Em seguida, o conformismo:
 
“Tinha a obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia o seu
lugar. Bem. Nascera com esse destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se
lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia”.
 
Sempre ludibriado e claudicante, a personagem busca inutilmente um acerto de
 
contas, não somente com o patrão, mas também com um representante do governo que
 
lhe cobra imposto por tentar vender um pedaço de carne de porco.
 
“... mas o cobrador da prefeitura chegara com o recibo e atrapalhara-o. Fabiano
fingira-se de desentendido: não compreendia nada, era bruto....para vender o
porco, devia pagar imposto”(Vidas Secas).
 
O conformismo com o futuro trágico de Fabiano e sua família é um traço marcante e
 
extremo no capítulo das “Contas”.
 
Por não saber ler nem escrever, não saber usar o código linguístico, Fabiano sente-
 
se inferior ao patrão, ao soldado amarelo que o prendera, ao fiscal, e assim a família vai se
 
prendendo a esse sentimento de inferioridade e se isolando cada vez mais na sociedade.
 
“Desejaria imaginar o que ia fazer para o futuro. Não ia fazer nada. Matar-
se-ia no serviço e moraria numa casa alheia, enquanto o deixassem ficar.
Depois sairia pelo mundo, iria morrer de fome e de sede na catinga seca”.
 
Já no capítulo “O soldado amarelo”, ocorre o confronto entre Fabiano e o policial
 
que o prendeu. Eles estão no meio do mato, Fabiano encontra-se armado e pode matá-
 
lo, pois o soldado está perdido em território inimigo. Mas o vaqueiro, diante de alguém
 
que representava um mundo que ele não conhecia, ajuda-o de forma subserviente a
 
sair a salvo daquele lugar, e o faz por sentir-se mais uma vez inferior ao lidar com um
 
representante do governo, uma figura abstrata e sabidamente importante e poderosa, que
 
lhe causava incondicional respeito.
 
“Enfim apanhar do governo não é desfeita, e Fabiano até sentira orgulho ao recordar-
 
se da aventura”. Como se o governo pela primeira, vez na figura do soldado amarelo,
 
tivesse prestado atenção nele.
 
As Personagens de vidas secas, em sua existência quase natural (primitiva), na
 
luta direta com elementos naturais. E apesar disso, recebem seu soldo, fazem parte da
 
economia capitalista em que a fazenda com seu proprietário, os outros trabalhadores, o
 
soldado amarelo, o fiscal, integram-se ao processo de exploração do capitalismo em sua
 
vertente colonial, em que a produção humana visa apenas aos interesses imediatos e
 
alienados da dominação.
 
Vidas Secas é um dos maiores expoentes da segunda fase modernista, a do
 
regionalismo. O diferencial desse livro para os demais da época é o apuro técnico do autor.
 
Ao explorar a temática regionalista, utiliza vários expedientes formais – discurso indireto
 
livre, narrativa não linear, nomes dos personagens – que confirmam literariamente a
 
denúncia das mazelas sociais.
 
A obra é uma história triste, sem um capítulo que possa descontrair o leitor, que
 
possa tirar deste um sorriso sequer. É uma obra realista com valor de uma expressiva
 
denúncia contra a injustiça social. Cada capítulo se transpõe numa metáfora única sobre a
 
miserabilidade da existência humilhante de suas personagens.
 
A rejeição assume dimensões naturais, cósmicas, em Vidas Secas, a história de
uma família de retirantes que vive em pleno agreste os sofrimentos da estiagem.
É supérfluo repetir aqui o quanto o esforço de objetivação foi bem logrado nessa
pequena obra-prima de sobriedade formal. Vidas Secas abre ao leitor o universo
mental esgarçado do pobre de um homem, uma mulher, seus filhos e uma
cachorra tangidos pela seca e pela opressão dos que podem mandar: o “dono”,
o “soldado amarelo”... O narrador que, na aparência gramatical do romance
de terceira pessoa, sumiu por trás das criaturas, na verdade apenas deslocou
o “fatum” do eu para a natureza e para o latifúndio, segunda natureza Agreste.
E dispersa-se nesta em farrapos de ideias, no titubear das frases, nos “casulos
de vida isolada que são os diversos capítulos”, enfim, na desagregação a que
meio arrasta os destinos inúteis de Fabiano, Sinha Vitória, Baleia...(BOSI, Alfredo,
História Concisa da Literatura Brasileira,p.404)
 
O fim de Fabiano e sua família fica por conta da imaginação do leitor, tarefa não
 
muito difícil para quem vive nas grandes cidades, pois que repletas de pessoas que se
 
amontoam em busca de oportunidades e com o sonho de uma vida melhor do que aquelas
 
que deixaram nos sertões. No mais das vezes, chegando à cidade, deparam-se com a
 
mesma secura de oportunidade e muitos terminam como chegaram, na mais profunda
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
 
BOSI, Alfredo, Céu, inferno: ensaios de crítica literária e ideologia – São Paulo: Duas
 
cidades, Ed. 34, 2003.
 
BOSI, Alfredo, História concisa da literatura brasileira – 43 ed. – São Paulo: Ed. Cultrix,
 
CANDIDO, Antonio, Ficção e confissão: ensaio sobre Graciliano Ramos. 3ª ed. Revisada
 
pelo autor – Rio de Janeiro: Ed. Ouro sobre Azul, 2006.
 
FUKS, Julián, Dossiê Graciliano Ramos. Revista Entre Livros, p.28 – 58, novembro 2006.
 
MENEZES, Douglas, O cidadão- escritor e sua visão de mundo. Revista Conhecimento
 
Prático Literatura, nº 38, p.43 – 53 - São Paulo setembro de 2011.
 
RAMOS, Graciliano, 1892 – 1953 Vidas Secas, 113ª ed. – Rio de Janeiro: Ed. Record,
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